Ser estudante e ser professor nos dias de hoje

30/08/2015 08:28

Por Luciana Martins Maia
    No dia 11 de agosto comemoramos o dia do estudante. Mas, às vésperas da comemoração dessa data, me pergunto: quem são esses estudantes de hoje?
    Quem são os professores que formam esses estudantes atuais? O que esses alunos estão aprendendo e qual o legado que ficará para as novas gerações? Será que as escolas de hoje são boas, adequadas e são capazes de preparar os estudantes para a realidade global existente atualmente?
    Não, não estão. Talvez não por culpa só delas, mas uma escola não se faz só de ideias, mas de educadores competentes. Uma escola pode ter o melhor sistema de ensino, a melhor proposta pedagógica, uma direção e uma coordenação atuante e engajada, mas se não tiver professores competentes e preparados, nada será possível.
     Essa questão da competência é muito delicada.... Em algumas profissões ela fica bastante evidente, mas no caso da educação, as consequências da incompetência vem a longo prazo, porque a aprendizagem pode ser mascarada por notas altas e avaliação ineficiente. Um médico que não tenha competência para atender um doente, fará o doente morrer, ou ficar pior. Um advogado que não tenha competência para defender seu cliente, fará o mesmo ser condenado, ou perder uma causa que poderia ser ganha, mas no caso do professor que não tem competência para ensinar, nem sempre isso aparece rápido. Se ele não sabe ensinar direito, pode dar aulas medíocres, jogar a matéria para ser estudada em casa e robotizar
os alunos para memorizar conteúdos que vão ser cobrados  nas provas. Após as avaliações ninguém lembra de mais nada. As consequências disso muitas vezes só serão vistas anos depois, quando o indivíduo precisar aplicar os conhecimentos e não os tiver.
    Historicamente falando, as escolas foram criadas para formar trabalhadores alfabetizados e obedientes que fossem capazes de aprender a manejar máquinas e a cumprir as ordens dadas. Hoje em dia vivemos num mundo complexo, complicado, no qual os profissionais responsáveis pela disseminação do conhecimento precisam ser capazes de localizar informações, sintetizá-las, comunicá-las e, em seguida, agir sobre elas. Mas será que os nossos professores são capazes disso? Talvez muitos ainda não. Os educadores de hoje precisam estar constantemente atualizados e atualizando suas habilidades, se comunicando através de diversas línguas e culturas e trabalhando com indivíduos e conhecimentos de várias origens. Precisam se construir e desconstruir constantemente, sair da caixa, pensar diferente, repensar novas formas de fazer diferente o que já foi feito. É preciso que saibam pensar por objetivos. É preciso saber o que querem realmente do aluno. É preciso saber o que querem deles mesmos. Isso tudo é importante para que os alunos possam ser preparados  para a realidade do mundo de hoje em que o conhecimento está sempre mudando. Esse conhecimento das escolas está concentrado em quatro pontos: criatividade, colaboração, pensamento crítico e colaboração. Mas esse é o paradoxo. Para ensinar esse conjunto de questões é preciso que se ensine também sobre: caos, complexidade, mudança é contradição. Para prosperar no mundo moderno, é preciso que se perceba que há coisas que acontecem por acaso, outras que podem ser construídas e trabalhadas e que tudo no universo está interligado muito densamente, desafiando a simplificação.
    Para mudar esse modelo ultrapassado é preciso modificar fundamentalmente as ideias que temos de escolaridade, aprendizagem e educação. Refletir sobre o porquê das escolas fecharem seus alunos em salas de aula durante todo o dia. Cada vez mais o espaço está sendo limitado, os movimentos tolhidos. Mas hoje as crianças parecem ser de vidro. Processos são movidos porque a criança arranhou o joelho, quebrou o braço na escola, caiu. Tudo é negligência. Lógico que não dá pra generalizar, mas crianças caem, se machucam, porque experimentam, se exercitam e isso é normal. O que não é normal é fechar os nossas crianças em gaiolas como passarinhos e depois ver que elas não conseguem mais voar. Será que não podemos criar crianças que possam contribuir positivamente com a sociedade? Podemos.

    Crianças são capazes de tudo. Desde que acreditemos nelas. Desde que as desafiemos. Se queremos que os nossos alunos aprendam, precisamos pedir que nossos professores os ensinem, mas não simplesmente os ensinem conteúdos formais, mas os ensinem a aprender, os ensinem a olhar o mundo com olhos curiosos, olhos de perguntas e olhos que encontram respostas. Olhos que não tem medo do novo, olhos que não tem medo de tentar, de buscar e de achar. Mas cobramos de nossos professores que eles mesmos aprendam? Que eles também estudem e busquem as suas respostas para as dificuldades dos
alunos? Não. Não cobramos. Fingimos que não vemos e vamos levando..
    Estudos de neurociência e psicológicos já mostraram que o cérebro tem dois centros de processamento de pensamento que se excluem mutuamente. Um é
altruísta e toma decisões com base nas conexões emocionais que são estabelecidas entre as pessoas. O outro é utilitarista e se baseia no benefício material. O centro de processamento altruísta é o local da empatia, da criatividade e da inteligência emocional, necessárias para a aquisição do conhecimento. Porém o sistema educacional mundial, em sua maioria, enfatiza o centro utilitarista dos alunos, através da cobrança por desempenho e pela avaliação do aluno ser medida através de testes padronizados. Isso limita o desenvolvimento da empatia por parte dos alunos, da inteligência emocional e da criatividade dos mesmos.

    Os riscos dessa realidade, de acordo com opinião de psicólogos, é que o foco na unidade utilitarista torna as pessoas infelizes, inseguras, mais propensas a mentir e a criar mecanismos para alcançar os resultados esperados. Incentivar pessoas através de prêmios por desempenho ativa sua movimentação utilitária, elevando a probabilidade de estresse, insegurança e trapaça. A curto prazo isso aumenta a produtividade, ou seja, produz boas notas e uma falsa sensação de aprendizagem, mas a longo prazo diminui e destrói a motivação interna.
    Os estudantes buscam como ajuda, atalhos e trapaças como a cola e a decoreba. Assim vão seguindo e se tornam adultos, mas muitas vezes acabam por se tornar pessoas que não tem orgulho do seu trabalho, que não fazem o que gostam, nem entendem efetivamente de um determinado assunto. Isso não é regra, mas acontece muito. Esse sistema gera mão de obra barata, sem qualificação, despreparada que, como uma bola de neve, gera profissionais tão despreparados quanto eles. Mão de obra barata e desqualificada não alavanca o crescimento de um país. Talvez a curto prazo o país pareça crescer, mas a longo prazo um país para ser globalmente competitivo, como o Brasil quer e precisa ser, necessita de profissionais do conhecimento que sejam criativos, engajados, desafiadores.

    Nossos professores precisam aprender a lidar com a criatividade, a treinar a empatia, a desenvolver a inteligência emocional. Será difícil, mas com vontade, tudo é possível. Educadores, abracem essa causa. Vocês são responsáveis pelo futuro da nação. Parafraseando Renato Russo: Que país é esse? Que país é esse que queremos? Vamos contribuir para formá-lo.
    Feliz dia do estudante, porque somos todos estudantes nesse mundo em que nunca deixamos de aprender. 

IDCP - Instituto de Desenvolvimento e Capacitação Profissional

"Transformando seus sonhos de educação em realidade"
www.idcpro.com.br