O QUE É MELHOR NA ALFABETIZAÇÃO? O USO DA LETRA CURSIVA OU DA LETRA BASTÃO?

23/08/2013 05:02

 

SERÁ QUE A LETRA BASTÃO TENDE A SUBSTITUIR REALMENTE A LETRA CURSIVA?

Por: Luciana Martins Maia

     Outro dia li um artigo na internet sobre o uso da letra cursiva na educação infantil e confesso que fiquei preocupada. Na verdade, esse é um assunto longo e polêmico. Falar que a letra bastão irá substituir a letra cursiva é uma afirmação isolada e deve ser analisada em todo um contexto.

     A letra cursiva é pessoal, mas para que a criança tenha competência e autonomia para utiliza-la, deve já ter dominado o código linguístico. Quando a criança simplesmente aprende a fazer a letra cursiva estará se tornando uma copista e não uma escritora. É muito mais fácil para a criança aprender a escrever com a letra bastão porque, como trata-se de uma letra mais simples, de fácil assimilação e que, como afirmou a autora do artigo, está presente no dia a dia das crianças, elas só precisam se preocupar com o que vão escrever e não com a forma daquilo que vão escrever. Dessa maneira, ao dominarem o código linguístico de forma autônoma e quando tiverem segurança o bastante para escreverem sozinhas, a letra cursiva pode ser introduzida naturalmente e será facilmente assimilada. E o melhor, corretamente, ou seja, com o movimento correto. O que vemos hoje são crianças que começam a escrever com letra cursiva muito novas, mas que o fazem na forma de copiar um desenho. Acabam por fazer movimentos errados, que dificilmente conseguem ser corrigidos no futuro.

    Concordo em parte com a questão do não uso de livros didáticos ou de livros que não sejam as velhas cartilhas, buscando um ensino mediado apenas através da leitura do mundo. Acho que o alfabeto deve ser revisto com a criança e mostrado as inúmeras possibilidades de associações dessas letras. As vivências do aluno devem ser valorizadas, o que ele traz e as atividades aproveitando o seu cotidiano são excelentes fontes de letramento e dão inúmeras possibilidades de exploração da leitura e da escrita. O que é importante ressaltar é que o processo de alfabetização deve estar sempre associado ao de letramento e que se dá através da relação: texto - frase - palavra - sílaba - letra - som e vice versa. O trabalho deve ser de ida e vinda. O texto deve ser analisado e fragmentado e o trabalho com unidades menores de escrita (letras e sílabas) também não pode ser descartado.

    Temos que tomar cuidado com os exageros e as análises pura e simples. Só um educador MUITO experiente consegue alfabetizar de forma plena. Do contrário, não vai conseguir identificar os problemas e os detalhes decorrentes do processo e acabará permitindo que falhas aconteçam. O problema é que, dependendo da falha ocorrida na alfabetização, ela pode se refletir negativamente no futuro. Hoje vemos muitas crianças já em séries mais elevadas, que escrevem fazendo o movimento errado das letras, ainda aglutinam palavras, não pontuam o texto corretamente e não conseguem usar a escrita alfabética com autonomia na produção de textos. O professor deve sempre servir de exemplo e proporcionar oportunidades significativas para que a criança leia e escreva. Ele deve buscar a autonomia e a eficiência da escrita no que se refere ao domínio do código linguístico e para isso pode lançar mão de vários recursos. Alfabetizar uma criança que já está pronta é fácil, mas fazer isso com aquela que pode apresentar alguma dificuldade no decorrer do processo é que exige do professor sensibilidade para detectar possíveis dificuldades e domínio do processo para resolver os problemas.