COMO TER (E MANTER) UMA EQUIPE DE PROFESSORES NOTA 1000!

30/08/2015 08:33

Luciana Martins Maia

            Escuto de vários gestores que é muito difícil conseguir professores qualificados e, principalmente, manter uma equipe eficiente e motivada ao longo dos anos. Mas por que isso acontece?

            Porque tanto quanto a formação dos alunos, a formação do professor também é igualmente importante. Eles precisam estar preparados para lidar com as mudanças na sociedade e com os novos paradigmas educacionais (entre outras questões) e não apenas reclamar do comportamento dos alunos e de suas famílias. Conviver com tudo isso pode e deve ser aprendido.

             É preciso que medidas eficazes e de curto prazo sejam implantadas como estratégia para iniciar esse processo de mudança, a fim de resolver os dilemas da escola, seja com muitos ou com poucos recursos. Porém, nenhuma medida isolada, ou mesmo em conjunto, vai assegurar a formação e, principalmente, a manutenção de uma equipe de alta qualidade. Tudo o que for implantado deve se constituir de ações relevantes em si mesmas, e que, se bem implementadas, podem servir de campo para o início de aprendizagens mais profundas e significativas.           

              A qualidade dos professores de uma escola também vai depender de como os gestores lidam com as questões educacionais e do relacionamento que mantém com o corpo docente. Também é preciso que o contato entre todos os membros da equipe seja o melhor possível. Um bom ambiente de trabalho: agradável, acolhedor, onde todos se ajudam e se motivam já é um grande passo para o sucesso.

              Mas a qualidade dos profissionais de uma escola também vai depender de uma boa seleção. Não há lei que obrigue uma instituição, seja ela pública ou privada, a contratar um profissional sem a qualificação exigida ou os níveis mínimos de conhecimento para o exercício do cargo. Portanto, a gestão pedagógica da escola é totalmente responsável pelos profissionais que mantém na instituição e deve responder pela qualidade do pessoal que admite para o seu quadro de funcionários.

              Criticar as universidades que formam mal e oferecem cursos com baixa qualidade ou a falta atual de professores com o antigo curso de Magistério, não vai resolver o problema e apenas tentará transferir a responsabilidade que é do empregador, para outras instituições.

              Pesquisas já demonstraram que o nível de conhecimento e o domínio de competências didáticas da maioria dos professores brasileiros é muito aquém do desejado. Isso ocorre pela falta de uma política educacional adequada e séria nos últimos sessenta anos. O governo expandiu muito rápido o acesso a formação, porém, não ofereceu os recursos adequados para que isso acontecesse.

                Mas então, como é possível reverter a situação e só ter na escola profissionais de primeira linha?

               Nem tudo está perdido. Muitos professores se qualificam por conta própria. Buscam sua formação, seja de maneira autodidata, seja através da formação continuada em serviço, ou participando de vários cursos para suprir os conhecimentos nas áreas em que precisam melhorar.            

                O primeiro passo que um gestor educacional precisa dar é reconhecer o problema de formação do seu corpo docente e conviver com ele de forma honesta. Mesmo aquelas escolas que contratam professores bem formados precisam estar atentas porque um professor nunca pode parar de estudar. Não se pode achar que apenas por contratar profissionais com graduação, ou mesmo pós-graduação, já se tenha garantida uma boa equipe.

                Professores serão sempre essenciais. Mesmo em cursos à distância eles são importantes na elaboração do material e na interação com os alunos. A qualidade da educação nunca será maior do que a qualidade dos seus professores. É preciso reconhecer que com um quadro de professores inadequado, dificilmente será possível avançar na qualidade da educação nacional. Para que os docentes rendam mais é preciso que sejam adotadas estratégias apropriadas para cada situação, para cada caso.

                Então, o que fazer com os professores que se encontram na escola, mas já não rendem mais como deveriam, ou não dominam adequadamente os conteúdos? Qual o papel do gestor ou do coordenador pedagógico nessa questão?       

                 A resposta mais simples seria: Capacitar os professores! Porém, o Brasil é o país que mais capacita seus professores em todo o mundo. É o país em que se gasta mais tempo em formação. Então por que não dá certo? Todas as evidências nacionais e internacionais mostram que esse modelo, pelo menos da forma como é aplicado, não está funcionando por aqui.

                A razão também é simples e óbvia: não é possível consertar um problema de estrutura criando paliativos. Ou seja, não adianta pintar as paredes para resolver o problema da rachadura. A casa vai cair do mesmo jeito. E é isso que acontece no nosso país. Se os professores têm um problema de formação, ou seja, cursaram um ensino básico fraco, capenga, não se apropriaram das competências, das habilidades e práticas necessárias de leitura, escrita, raciocínio lógico, observação, avaliação, entre outras, para ser um bom professor, não serão aulas de didática, ou de teoria sobre os grandes pensadores da educação que os farão ser mais competentes a fim de dar aulas melhores e mais adequadas à realidade e aos anseios de seus alunos.

              Portanto, o que um gestor ou coordenador pode fazer é tratar de analisar criteriosamente qualquer proposta de capacitação e só aprová-la se realmente houver evidências de que será adequada para o seu grupo e que dará os resultados esperados. O fato de uma capacitação ser proposta pelo MEC ou por uma instituição de prestígio não garante o sucesso.

             Um segundo passo a ser dado é pensar em alternativas para cada situação. Muitas vezes adotamos modelos prontos, que se mostram ótimos em outros países ou em outros cenários, mas que podem não dar certo na comunidade na qual estamos inseridos. Ou seja, é preciso saber exatamente qual é o problema e onde ele se encontra, para então buscarmos uma maneira de solucioná-lo. Muitas questões são resolvidas apenas mudando a relação entre os vários fatores envolvidos.

              Formar um indivíduo é tarefa para uma vida inteira e um ano de estratégias inadequadas pode colocar tudo a perder. Consertar deficiências de formação pode ser muito mais difícil, demorado e complexo do que formar o cidadão, com todas as suas limitações.                                                                                                                  

             Mas, muitas vezes ficar inerte, isentando-se da responsabilidade é mais fácil, menos complicado. Ou, ao contrário, oferecer treinamentos cada vez mais sofisticados pode resultar em nada se as estratégias adotadas não estiverem adequadas às deficiências encontradas. Cada realidade vai demandar instrumentos diversos e apoio diferenciado para que o trabalho possa fluir e ser executado da melhor maneira. É preciso estruturar o ensino. O professor não trabalha sozinho. Educação se faz em equipe. Todos devem caminhar juntos em prol de um bem comum. O professor de um ano escolar precisa interagir com o do ano anterior e com o do ano seguinte para que seu trabalho tenha unidade e continuidade. Cada turma é uma turma. Mesmo com o mesmo conteúdo, para cada grupo a resposta vai ser diferente, pois somos diferentes.

             Soluções bem pensadas, analisadas e bem concebidas, implementadas de forma eficaz, trazem resultados significativos. Mas é preciso que sejam avaliadas em todo o processo a fim de que sejam corrigidos ao longo do percurso os desvios de rota, fracassos e os erros que possam ocorrer.

              Gestores atentos e comprometidos podem contribuir para mudar o foco do problema. Ao invés de ficarem buscando melhorar o material didático, implementando soluções tecnológicas que muitas vezes os professores não vão saber utilizar, oferecendo cursos teóricos e cobrando resultados da equipe, eles devem criar um ambiente de cooperação e trabalho duro, mas que seja um ambiente agradável e acolhedor, no qual o professor possa encontrar respostas para suas angústias e seus anseios profissionais.

               A capacitação continuada é importante? Sempre!! Mas ela deve estar de acordo com as necessidades da equipe e da instituição. Deve ser oferecida por profissionais que tenham algo a somar ao grupo e que possam contribuir de forma significativa para a melhoria da qualidade da educação como um todo.