A criatividade como facilitadora da aprendizagem

09/09/2015 07:56

(Por: Luciana Martins Maia)

 

Você se acha uma pessoa criativa? Sabe realmente o que é ser criativo? O que significa criatividade?

Criatividade é um substantivo feminino derivado do latim creare, que indica a capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas. Dessa forma, quando desejamos um aluno criativo, queremos também que ele encontre uma maneira diferente de fazer o que já foi feito. Entretanto, essa posição demanda uma postura mais ativa e aberta por parte dos educadores que, muitas vezes, apresentam à criança modelos prontos para a reprodução sistemática e inquestionável.

Nossos alunos são potencialmente ativos, criativos e capazes. É só lhes dar oportunidades. Temos que, enquanto educadores, adotarmos uma postura mais realista e atenta frente a esse aprendiz tão cheio de vida e de ideias, mas que muitas vezes nos atordoa.

Um sujeito criativo é aquele que consegue utilizar todas as suas potencialidades com responsabilidade e de acordo com o contexto histórico ao qual está inserido. Cabe aos professores ajudarem os alunos a estimular e organizar todas as suas ideias a fim de que os mesmos as usem de forma consciente e responsável.

Em relação às atividades propostas cotidianamente para a educação básica, muitas vezes o uso da criatividade é deixado de lado, porém, como parte do desenvolvimento psicológico da criança ela deve acompanhar o indivíduo através de toda a sua existência.

Antigamente o processo criativo era visto como algo possível apenas para criaturas “especiais”, cujo talento excepcional e grande competência permitia coloca-los na categoria dos gênios, loucos ou artistas.

Numa tentativa de compreender o fenômeno criativo sob uma ótica mais científica, o ideal seria remetê-lo a um enforque mais psicológico, a partir do qual comportamentos e aprendizados sejam vistos como processos de conhecimento  ligados ao atendimento das perspetivas afetivas e atitudinais do sujeito. Sendo que este sujeito deve ser visto também como alguém que está totalmente inserido no contexto educacional, socio-cultural e histórico, pois todos são capazes de gerar novas ideias e a criança mais ainda, já que não foi tolhida pelos modelos e convenções sociais. Entretanto, para algumas delas essa facilidade torna-se ainda maior.

Nesse contexto, alguém pode ser chamado de criativo e talentoso quando consegue, a partir de novos desafios ou alternativas, no seu cotidiano e nas suas relações interpessoais, potencializar suas ideias a fim de realizar algo considerado inovador, excepcional. Dessa forma a criatividade pode ser entendida como uma ação espontânea do indivíduo , um processo multideterminado ou mesmo como um modo do indivíduo se expressar no ambiente que o cerca. Ser uma pessoa criativa é ser alguém que consiga lançar mão de todos os subsídios possíveis, tanto aqueles inerentes ao ser humano, quanto aqueles desenvolvidos através da ação de estímulos ambientais, para conseguir ir além da aprendizagem, gerar alternativas na solução de problemas e encontrar uma melhor qualidade de vida.

Partindo desse pressuposto, a escola deveria ser o lugar ideal para que essa criatividade fosse aplicada, no entanto a educação formal se constitui como uma via de acesso ao conhecimento científico, necessário ao desenvolvimento cultural dos alunos, mas que pouco prioriza a autonomia e o talento deles. Tanto essa educação formal quanto o saber científico são produções sociais e, como tal, precisam seguir regras e convenções. Só que, dessa forma, o saber criativo muitas vezes é abortado precocemente pelo professor, que deveria ser apenas uma referência, um guia, um norteador, mas que no fundo trata-se de um mero organizador dos registros feitos pelos alunos e das informações recebidas, sem importar-se com o significado dessas informações.

A educação formal tem, nesses novos tempos, um desafio duplo: primeiro incentivar a oralidade e a comunicação entre os alunos e, segundo, trazer a palavra para o centro da prática pedagógica, a fim de que a mesma circule e ganhe significado nos demais contextos, sendo ela saber e ação. A criatividade surge a partir do momento em que o saber vai sendo internalizado e integrado a subjetividade. Cabe, então, ao professor, identificar entre seus alunos aqueles que tenham mais habilidades, aptidões e competências para desempenhar melhor cada tarefa e acessar o conhecimento historicamente construído. É preciso oferecer os recursos necessários para que os alunos se sintam instigados a buscar novas respostas para o que já foi vivenciado.

A escola de hoje deve oferecer aos alunos diversas experiências, a fim de que estes se tornem cada vez mais criativos e consigam estabelecer novas conexões e combinações entre suas vivências, tornando-se, assim, sujeitos mais capazes de aprender e de conseguir esgotar todas as suas possibilidades, representando-as através de várias linguagens e compreendendo também, nesse enfoque, as necessidades, experiências e vivências do outro. Dessa forma, a ação escolar precisa ser sistematizada considerando as atividades das crianças e a promoção de ações de ensino-aprendizagem que despertem o interesse do aluno em conhecer algo novo.

De acordo com Gardner (in: 1992), “a inteligência da pessoa fornece a base para a criatividade; ela será mais criativa nos campos em que tiver mais energia”, ou seja, o professor, para obter sucesso nos seus objetivos deve partir de uma área significativa e de interesse dos alunos.

Para ser criativo o indivíduo precisa não estar estagnado, engessado dentro de uma lógica cartesiana, mas sim expressando-se de forma livre e sendo valorizado em suas múltiplas inteligências. Cada uma dessas inteligências constitui-se como modalidade de expressão, sendo produto da interação do sujeito com o ambiente, na estimulação e nas trocas permanentes entre um e outro.

Numa ótica criativa, na escola não mais podemos valorizar apenas a inteligência linguístico verbal, mas observar também as crescentes estimulações no campo da matemática e da linguagem, da música, da expressão corporal e plástica, do raciocínio espacial, do movimento, da forma como o indivíduo se apresenta na própria casa e na frente dos amigos. A escola deve romper com a ótica excludente e padronizada que valoriza a cópia e a memorização, pois esta já mostrou-se ao longo dos tempos, ineficaz no processo de interação do sujeito com seu objeto de estudo.

Engana-se o professor que se preocupa com qual inteligência desenvolver através deste ou daquele conteúdo, já que as disciplinas devem valorizar todas. O jogo, através de seu potencial lúdico, deve ser bastante utilizado desde a educação infantil como forma de envolver o aluno e trazê-lo para um novo contexto.

Compete ao educador rever sua formação e sua função, bem como a proposta de atividades escolares que incluem o uso da criatividade no desenvolvimento da rotina dos alunos, podendo partir tanto dessa rotina quanto do planejamento da disciplina. Outro fator importante que incide diretamente na formação do educador é a medida em que este será o condutor da compreeensão dialética e dialógica do outro.

O desafio está em considerar a história do meio e conseguir implantar no aluno a consciência de sua realidade e da real possibilidade de superação das limitações que essa condição lhe impoe. A escola, nesse contexto, deve ser pensada como um espaço onde as crianças e adolescentes possam compartilhar seus sentimentos,  como temores e angústias e onde seja possível a manutenção do diálogo entre educadores e profissionais ligados ao setor.

O espaço escolar deve ser construído de forma que haja relevância na relação professor / aluno, na qual a criatividade seja inserida naturalmente na prática pedagógica e na concepção de uma nova cultura escolar. Assim, a relação entre professores e alunos deve assumir um caráter construtivo na formação do sujeito questionador e crítico, voltado para a luta diária contra o sentimento de não aceitação do outro e de suas ideias.

É preciso aprender a “ser”e a “conviver” com as pessoas, com novos contextos e saberes de forma dinâmica, interativa e crítica. É preciso criar sempre e com maestria.

Alunos criativos certamente aprenderão mais facilmente o que lhes for ensinado e  dominarão os conteúdos obtendo melhor desempenho. Coloquemos, então, nossa cabeça para pensar e criemos, nós educadores, um escola melhor e mais atraente para as nossas crianças.